Denial.

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sábado, 29 de março de 2014

Os paradigmas da cultura do estupro

Gostaria de comentar brevemente os preocupantes dados levantados recentemente em relação ao comportamento das mulheres e estupros. Como mulher e como feminista, acredito que este é um tema que não pode passar batido.

Assusta-me muito o fato de que a maioria das pessoas ainda acredita que é uma saia curta que provoca um estupro. Algo que parece tão óbvio que não passa de uma desculpa para justificar a violência. Como eu já comentei em vários momentos, crianças jamais provocam sexualmente através de roupas ou comportamento e são estupradas. Velhinhas que estão dentro de casa têm seus lares invadidos e seus corpos violados. Muçulmanas vestem burcas que lhes cobrem até os olhos e são estupradas. Mulheres são estupradas por seus companheiros e por conhecidos, ou até mesmo por familiares. A roupa é só uma desculpa que um estuprador encontra para justificar uma violência que tem ele mesmo como único culpado.

Eu tive o desprazer de ter que ouvir, de uma pessoa próxima, que “onde houver uma mulher pelada e um homem vestido ninguém vai mudar a cabeça de ninguém. Não se muda a natureza”. Então quer dizer que todo homem é naturalmente um estuprador, e que estamos sujeitas a esta violência física e psicológica só para atender a esta necessidade? Pois se tem uma coisa que eu jamais irei admitir é que isso é natural. Então retruquei: “Isso não é natural! É cultural!” e a pessoa não me respondeu. Simplesmente porque não há argumentos.

É daí que vem a ideia de Cultura do Estupro. Há a influência da mídia, dos governos, da religião e das empresas na disseminação da ideia que a mulher não passa de um objeto submisso ao gênero masculino. E isso faz a cabeça tanto de homens quanto mulheres. Entretanto, há aqueles que questionem essa discriminação, sendo assim que eles não cometem os atos. Ou seja, mais uma prova de que o patriarcado prejudica mulheres e homens.


Pois parece então que a mulher que conseguiu conquistar, ainda que não suficientemente, o espaço do trabalho, da independência financeira, da autonomia, ainda terá como seu principal obstáculo o direito à não violência e à liberdade sexual. E este caminho é longo – pois temos uma maré muito forte contra nós, que é a Cultura do Estupro. Portanto, lembremos sempre que a mulher pode estar de saia, de burca ou nua – ela não está provocando. E é sempre bom reiterar: a mulher que recusar sexo, seja com quem for, seja o marido, o namorado, um cara na balada, deve ter seu não respeitado. Sexo sem consenso é estupro. Enquanto a nossa sociedade não quebrar estes paradigmas, jamais alcançaremos a harmonia que, sem dúvida, todos desejamos.

Diga não à Cultura do Estupro! Nenhuma mulher merece ser estuprada!

terça-feira, 25 de março de 2014

Àquelas pessoas...

Há momentos em nossas vidas que não sabemos explicar. São momentos que marcam, e muitas vezes marcam por conta de pessoas que os tornaram tão significantes. Acho que estou num momento desses agora.

Em agosto do ano passado, conheci uma pessoa que mudou minha concepção do mundo para sempre. Soo piegas, eu sei, mas as transformações ocorridas de lá até aqui são drásticas demais para passarem despercebidas.

Minha sede de conhecimento se aguçou muito ao longo do tempo em que fui ouvindo o que essa pessoa tinha para dizer. Aquilo era, para mim, uma fonte inesgotável de informações, raciocínios, elos e sabedoria, a qual, se eu pudesse escolher, teria colocado numa caixinha e deixado ligada o tempo todo ao lado da minha cama. Cada palavra era uma nova dimensão, uma nova reflexão, algo novo que surgia na minha mente. Muitas portas foram abertas.

Ao longo do tempo, percebi que estava em metamorfose. E o mais interessante disso é que eu vinha esperando por isso havia muito tempo. Foi o momento em que eu passei a entender, mesmo que dentro da minha simplicidade, as complexidades do mundo. E foi assim do começo até o fim – nenhuma palavra desperdiçada, todos os discursos cuidadosamente analisados. No fim das contas, encontrei um caminho para aquilo que eu vinha almejando. Não sei bem o que era; não sei se o conhecimento em si, ou talvez vias de acesso para ele. Só sei que tudo aquilo me fez muito bem; encontrei uma nova alma dentro de uma que já parecia perdida.

Agora eu sei que carregarei comigo os aprendizados deste período para a vida toda – sempre tentando aperfeiçoá-los. Levar sempre a ideia de que sempre podemos saber mais. Podemos questionar. Conhecer as complexidades do ser humano, da sociedade e do sistema em que estas entidades se encontram. E garanto que sentirei falta de todos estes ensinamentos. Assim os chamo porque não foram simplesmente aulas, não foram apenas conversas. Foram parte da minha formação como ser humano, como membro da sociedade, como mente em desenvolvimento. E como eu mencionei anteriormente, mesmo que este período de encontros tenha chegado ao fim, tais ensinamentos continuarão desempenhando um papel sempre muito relevante na pessoa que eu me tornei e ainda vou me tornar.

Um agradecimento infinito, professor.


Ingrid Smok

quarta-feira, 19 de março de 2014

Marcha da Família

Marcha, marcha
Marcha pelo bem
Marcha com papai
Seguindo as ordens de mamãe

Vem com Deus
Volta com ele
Amor para nós
Ódio para eles

Liberdade e amor
À pátria, não ao pudor
Ao meu conforto
Não ao de outro senhor

Cantemos na escola
Negue qualquer esmola
Subversivo é você
Que quer João de volta

Homem com homem é ruim
Mulher com mulher, só comigo
Malditos subversivos!
Quero minha liberdade de oprimi-los

Marcha com papai
Marcha com mamãe
Seu deus pode amar a todos
Mas o meu só ama a mim


(Uma homenagem a todos aqueles que sofreram nas mãos da ditadura militar, e meu singelo apelo àqueles que a defendem. Diga não à Marcha da Família com Deus pela Liberdade.)

sábado, 8 de março de 2014

Mulher Vermelha – 2014, Dia da Mulher! (Manifesto em forma de verso)

Por nós, rainhas da nossa luta!
Soberanas de nossas regras
Soberanas de nossos corpos
Meu corpo, minhas regras!

Por nós, rainhas da nossa luta!
Jamais temendo sair na rua
Contra o machismo e a força bruta
Contra o racismo e homofobia, de todos nós é a rua

Por nós, soberanas de nossas regras
Não sairá impune quem nos atirar pedras
Somos fortes, diferentemente do que pregas!
O corpo é meu, e essas são as minhas regras!

Somos mulheres, mulheres vermelhas
Mas somos também mulheres fortes, perfeitas!
Somos mulheres vermelhas, sempre guerreiras!
E hoje é nosso dia, amanhã também, e sempre, companheiras!

domingo, 2 de março de 2014

Mulher Vermelha, Volume 2: Marcha de Rua

Mulher nua, caminhando na rua
Beleza escura, igualdade sem cura
Estou presa num canto, sem perder meus encantos
Posso um dia estar em prantos, mas não por enquanto

Subo na mesa, derrubo a cerveja
Sou muito extrema, não vou à igreja
Me mantenho independente, mas nunca carente
O que não significa que eu amo sem compreender, o seu amor fervente

Marchando na rua, com faixas escuras
Não interessa se estou nua, de vestido ou de burca
Sou mulher vermelha, sempre guerreira
Não interessa onde esteja, ninguém me despeja.