Denial.

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sábado, 12 de abril de 2014

Depoimento: O trauma desta mulher

Há algum tempo, escrevi um texto sobre o trauma que toda mulher tem em relação às imposições que a sociedade coloca sobre sua aparência. Conhecemos o depoimento de muitas mulheres e, sentindo-me inspirada por elas, nada mais justo do que contribuir para a causa também com o meu. Por isso, hoje eu venho aqui para falar do meu trauma pessoal.

Eu cresci vendo minha mãe e minha irmã se depilarem constantemente e sabia que aquele também seria meu destino. Até porque eu posso dizer que sou sim bastante peluda: além dos pelos que toda e qualquer mulher tem, tenho muitos extras nos braços, nas mãos, nos dedos, nas costas e principalmente no rosto. Meu maior trauma provavelmente se concentra ali: no buço, envolta dos lábios, no queixo e na face. Em outras palavras, eu tenho uma quantidade de pelos muito maior do que muitos homens por aí.

Assim, comecei a me depilar aos 11 anos da idade.

Eu via outras garotas com rostos lisinhos e sempre me sentia suja, relaxada e feia. Ainda me sinto, em muitos momentos. Lembro-me que antes de começar a depilar o rosto por conta própria – com cera quente, devo frisar – eu ansiava desesperadamente por um dia em que minha mãe pudesse tirar os pelos para mim. Depois que eu passei a tirará-los sozinha, fazia questão de me depilar toda semana – aliás, ainda o faço – assim como uma vez por mês eu encho a minha cara de químicos para deixar os pelos negros das bochechas louros.

Porque ainda não me é fácil olhar para o espelho e ver aquele “bigode de chinês”, como diziam alguns; ou o queixo “barbado” e as bochechas cobertas de cabelos que contrastavam completamente com a cor da minha pele. Eu não sei se as pessoas reparam em mim, mas sei que eu reparo nelas. Reparo porque praticamente fui ensinada a pensar assim e não tenho nenhum orgulho disso. Tenho dificuldades de me desapegar desses hábitos e dificilmente me livrarei de muitos deles.

O que me salvou de grande parte da pressão de estar depilada foi a minha maior aproximação com o feminismo. Vi diversas mulheres exibirem seus pelos livre e orgulhosamente, assim como mulheres que mesmo se depilando apoiavam a causa de mulheres que não queriam aderir à prática. E depois de uma experiência traumática recente, envolvendo bochechas, cera quente, muita dor e uma série de ardências provocadas pelo calor e por lágrimas, eu simplesmente decidi que não poderia mais me deixar vencer por aquela pressão.

A partir daquele dia, passei a fugir dos padrões. Passei me importar menos quando os pelos do meu rosto (normalmente dois dias antes de eu tirá-los com cera) ou das pernas estão um pouco maiores e venho conseguindo manter as axilas perfeitamente peludas sem sentir qualquer incômodo. Muito pelo contrário: quando eu tenho que tirá-los - pois ainda não cheguei ao estágio de sair de casa expondo toda a cabeleira – eu honestamente sinto falta deles. Alcançadas estas pequenas conquistas, porém de enorme significado, o próximo passo é me livrar do “pudor” social que existe em relação à depilação.

Hoje me sinto muito mais livre, muito mais mulher, simplesmente pelo fato de poder ser eu mesma. O que define uma mulher não é um padrão, mas sim o direito de ela poder ser dona de seu próprio corpo e escrever sua própria história. Nosso corpo, nossas regras. Nossa vida, nossa história.

terça-feira, 8 de abril de 2014

Mulher Vermelha, Volume 3: Natureza Vermelha



Mulher Vermelha, rainha de si mesma
Puta sem inocência, tem sua própria experiência

Negras brancas
Amarelas belezas
Na cor do sangue somos iguais
Somos todas mulheres vermelhas

Está na essência
O sangue de guerreira
Às vezes com ódio e veneno
Mas no fundo todos temos sangue vermelho


Sou rainha, sou eu mesma
Ninguém tira de mim
A essência que me brilha intensa

Luto por companheiras
Que morrem pela luta
Valentes guerreiras!

 Brigamos sem medo
Lutamos por nossos direitos
Seremos eternas, com nome e respeito
Donas de nossa própria verdade

Nascemos puras, nos tornamos putas
Ou nascemos putas, não existimos puras

A natureza é nua, independente e escura
A vontade e a vida é minha
Sou perfeita, natural, nua e crua

Somos mulheres vermelhas
Sempre guerreiras
Protagonistas da nossa história

E soberanas da própria vitória!