“É fácil ter ideais”
Às vezes vão dizer que me tornei
mais uma adolescente depressiva estereotipada dessa geração. Dirão que eu estou
desperdiçando minha vida, que passo o tempo todo na frente de uma tela de
computador e que não saio do meu quarto.
De fato, não saio. Tenho muito
trabalho a fazer; quando se está dentro de uma universidade – mesmo antes de
entrar no ensino superior – a vida se torna outra, e o mundo adulto se torna
mais evidente. As responsabilidades surgem, e ao longo que estudamos,
trabalhamos, deixamos de ter lazer, acabamos nos alienando da vida. Mas se
trabalhamos com o que gostamos, pode ser que isso se amenize. Não sei, não
cheguei nessa fase da vida ainda.
A questão é: não, não me tornei uma adolescente depressiva.
Muito pelo contrário. Parece que estou me encontrando no mundo. Venho fazendo
descobertas maravilhosas e ao mesmo tempo bastante assustadoras sobre quem eu
sou, sobre quem as pessoas à minha volta podem ser e sobre o que a sociedade
vem se tornando. E com isso venho crescendo. Já dizia Sócrates: “É sábio o
homem que pôs em si tudo que leva à felicidade ou dela se aproxima.”
“É fácil ter ideais” – esta foi a frase que ouvi em um dos
momentos em que eu tentava explicar o porquê de querer fazer História na
universidade. Por que não uma engenharia? Ou alguma tecnologia? Medicina?
Simples – porque meu objetivo é
outro. Não que eu não goste das outras áreas; eu gostaria muito de fazer
Engenharia da Produção, ou quem sabe Engenharia Industrial Madeireira. Mas meu negócio
não é a indústria. Não é a produção. O que eu realmente quero fazer é entender
quem somos – como surgimos, como nos tornamos assim. De onde veio a sociedade?
Como ela evoluiu? Se é que evoluiu? Por que chegamos a tal ponto? E que ponto é
esse? Como será daqui pra frente?
É por causa disso que eu percebi que sou das Ciências Humanas. História, Filosofia, Sociologia, Geopolítica, sempre foram as disciplinas que mais me interessaram e que me abriram para o caminho do conhecimento que eu sempre busquei. É graças a elas que me encontrei. Que encontrei – ou venho encontrando – meus ideais.
Então quer dizer que é fácil ter
ideais, dizer que vou estudar História, para depois chegar na hora de conseguir
um emprego e ver que ser professor é difícil, que ninguém é valorizado?
Aí é que está a grande questão.
Quanto menos pessoas quiserem seguir a carreira de educador, mais decadentes
nos tornaremos. Não é só de professores que precisamos – é de professores
capacitados, dispostos a abrir a mente do aluno. Não basta torná-lo cidadão;
deve-se torná-lo consciente de que o mundo é muito mais do que crescer,
trabalhar e morrer. O mundo é mais do que uma grande indústria, porém está
mascarado pelas exigências de um mercado ditador.
Aí os “desperdiçadores de tempo” –
historiadores, filósofos, sociólogos, artistas e até mesmo psicólogos – acabam caindo
na desvalorização, pois o que se entende por valor hoje parece ser a honra de
estar na grande indústria. A luta por ideais se torna tabu, enquanto vemos a
sociedade caminhar cada vez mais para o detrimento absoluto.
Não, não é fácil ter ideais.
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